segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

APROVADOS 2011

Desde outubro venho desdobrando-me para realizar as provas e ainda tentando manter a calma, para não pirar, mas agora tiro um imenso peso das costas sabendo que posso dormir...
Sem descansar pois a jornada apenas se inicia...

EVOÉ BACO!



domingo, 19 de dezembro de 2010

NOITE FRIA - pt. 01



Apertar o play. Esta é a primeira ação que tem ao pisar na rua, em seu tocador de música ela escolhe uma música que pudesse traduzir sua alma e descrever seus sentimentos naquele momento. Coloca em seus ouvidos os fones e começa a andar. Seu corpo se arrasta em passos lentos que são embalados por uma melancólica e triste música.
Está frio e o dia está quase por acabar, ela anda olhando para o chão e deixa seu olhar se fixar em seus velhos sapatos pretos. O vento sobra muito forte obrigando-a a dar mais uma volta em seu cachecol, em poucos minutos, lá está ela parada na plataforma ferroviária, pois seu destino é um lugar extremamente distante de sua simples casa de subúrbio.
A estação encontra-se praticamente vazia, excluindo-se existem apenas mais duas outras almas por ali, duas mulheres que inutilmente passam suas vassouras sobre o empoeirado chão, que insiste em sujar-se novamente devido o vento de outono que derruba e espalha as folhas de uma velha árvore que desde sua infância tenta dar um pouco de vida aquele monstro de concreto.
“A vida parecia fácil...” era o que inocentemente ela pensou um dia, mas agora pergunta-se “O que significa a palavra fácil?” e só consegue pensar em quando dizem que hoje em dia as coisas são mais fáceis, o ser humano conseguiu inventar uma infinidade de coisas, que para ela era simplesmente um monte de lixo, pois mesmo dotado da tanta sabedoria não conseguiram inventar algo que o tornasse melhor, não inventaram algo que transmutasse sua dor em paz ou seu sofrimento em tranqüilidade.
Já não era mais hoje, o hoje já havia se tornado o ontem para que o amanhã fosse o agora. E ela estava ali, parada, prostrada no início da plataforma, este era mais um de seus inúmeros rituais: descer as escadas e se distanciar o máximo das pessoas. E ali, parada nesta noite fria, ela parecia estar em outro mundo, embalada por sua música dispersa de qualquer outra coisa senão os galhos da velha árvore que se inclina para a direita com o vento.
O trem parou exatamente em sua frente e assim que as portas se abriram a única coisa que ela precisava era dar o primeiro passo e entrar no vagão para iniciar sua jornada, uma jornada que marcaria mais uma vez sua vida, marcaria esta sua nova vida e ela desejava não repeti-la, não nesta vida.
Dentro do vagão apenas mais três pessoas viajavam e estas pessoas traziam estampados em seus semblantes a clara transfiguração do fracasso. Estavam ali quatro indivíduos sentados distantes um dos outros, cada um com suas histórias e seus fantasmas.
A música continua insistentemente a tocar e ela já não sabe mais o que está sentindo, seus sentimentos já haviam se tornado um emaranhado de idéias velhas e vagas. Aos poucos o vagão vai esvaziando e ela fica totalmente sozinha, porém não mais metaforicamente.
A luz fria do vagão torna tudo apático e sem vida, nem mesmo o rubro banco trás a cena vida ou brilho. Inóspita, solitária de corpo e alma, seus pensamentos começam a afetar seus sentidos tornando-os tão confusos quanto sua mente.
Mas é a visão a primeira a trair-lhe. Com a cabeça encostada no banco olhando para o alto vê as luzes dançarem e tornarem-se como salamandras extasiadas. Seus sentidos parecem um amontoado de merda, e merda seria o perfeito reflexo para descrever sua existência.
As luzes, assim como todas as superfícies brilhantes daquele lugar, passam a desfocar-se a cada momento que ela tentava identificar o que via, possivelmente deveria estar muito cansada, cansada demais até mesmo para reclamar.
Ela é um vaso vazio e sua alma há muito tempo já havia abandonado seu corpo, para que toda esta merda pudesse penetrá-la.
Quem era ela, quem era esta personagem sentada em um banco solitária no primeiro vagão deste trem da madrugada, quem são as mães por trás dos milhares de cartazes de desaparecidos, quem são aqueles que morrem vítimas da violência sem terem o direito de conhecerem seus algozes, muito menos os motivos que o levaram, quem são aqueles que morrem nas filas antes mesmo de seus corpos, pois a esperança os abandonam à sorte, quem são aqueles que morrem no cárcere, quem é este que rabisca estas palavras sentado sozinho debaixo de uma luminária tendo como seu consolo apenas um cigarro já pela metade e uma garrafa de conhaque? Quem é você que está neste instante esta escutando esta história? Se somos nós incapazes que de reconhecer-nos, quem dirá esta nossa personagem que não mais se reconhece nem ao espelho muito menos consegue ter consciência de quais caminhos sua vida a fez trilhar.
Ela respira fundo, mais um ritual, é sempre assim respira fundo ao ver de longe o início da última estação, seu ponto final, neste instante uma lágrima escorre por seu rosto, lágrima esta que ela mesmo já não consegue mais explicar tornou-se tão comum que não dói mais, antes mesmo que possa secá-la o trem para.
E o fim e mais uma noite começa para as crianças perdidas.

Inicio 13/10/2010 – 02h15m
Termino 18/10/2010 – 21h38m
Digitado em 23/10/2010 – 03h11m

Leia ouvindo – Run (Snow Patrol)
http://www.youtube.com/watch?v=jS8IZcx7tJY

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

sábado, 4 de dezembro de 2010

INSUFICIÊNCIA

ENSAIOS de Vida e Morte!
23 DE SETEMBRO DE 2010.
INSUFICIÊNCIA



A água do cai vagarosamente sob sua cabeça, escorrendo por seus cabelos suados e eternamente desgrenhados, coberto pelos vestígios de sua última tarde ao lado de seu grande amor. Ao acariciá-los ele traz a tona aquele desejo voraz que há poucos instantes transbordava de seu corpo.
Ali naquela casa, eles haviam construído um mundo paralelo, um mundo onde nada mais importava, só havia lugar para seus corpos suados e a intensa paixão que os levavam a ficarem dias trancados se entregando ao mais intenso, profundo, molhado e extremo amor.
Com extrema sutileza, ele desliza suas mãos por seu corpo na busca de encontrar um vestígio qualquer de seu grande amor, um fio de cabelo talvez. Em meio a sua busca ele encontra novamente o prazer, não um prazer simples e mundano levado pelo simples fato de estar se tocando, este prazer que o invadia era resultado de uma complexa combinação: onde o resto do aroma da tão prazerosa relação misturava-se com seu próprio cheiro. Levava sua mente aos mais delirantes devaneios embalados pelas recordações. Enquanto a água corria por seu corpo ele pensava e não conseguia se lembrar de uma outra época que tivesse conhecido tanto prazer ou de um outro corpo tão fascinante ou pele tão macia e perfumada, só conseguia pensar na sua última tarde, via os corpos que se espremiam e escorregavam um no outro em um constante frenesi. Recordou-se com riqueza de detalhe o momento inicial da triunfal penetração, pode sentir na pele cada milímetro, daquele pequeno, rosado, suculento e delicado orifício, que remetiam a um pequeno vão entre as nuvens no céu e que pouco a pouco ia se dilatando para receber o faminto falo.
As costas cobertas pelo suor ressaltavam ainda mais aquela fabulosa tatuagem que ele mesmo um dia havia desenhado. Cada curva do desenho criado com maestria e carinho, imerso em um profundo anseio de um dia poder vê-la assim, liberta e entregue por completo a suas carícias, assim de bruços com suas delicadas nádegas empinadas, como dois fartos e delicados montes, maravilhosamente cobertos por seus delicados e finos pelos loiros transformavam aquela visão na mais fascinante e excitante imagem que poderia ser captada pelos olhos de um simples mortal, digna de ser eternizada. De uma coisa ele tinha certeza: aquela era a imagem que ele iria guardar deste louco amor, exatamente assim como via, aquela casa com os lençóis bagunçados sob a cama e aquele fabuloso corpo que repousava nesta espécie de ninho de amor entregue e clamando para ser mais uma vez possuído.
Ele acariciou seus cabelos e deslizou as mãos vagarosamente pelos ombros descendo pelas costas, um visível frison é eminente, ele repousa as mãos em seu sexo, mas não antes de acariciar incessantemente sua bunda deixando seu corpo ainda mais encharcado de suor.
Aquilo era amor em sua essência mais intensa e visceral, para eles nada era proibido, sujo ou imoral, eram dois corpos entregues aos seus anseios e desejos mais primitivos, eram homem e mulher na mais perfeita definição da palavra, satisfaziam-se, gozavam e amavam, abraçados comprimiam seus corpos cada vez mais como se quisessem transformar-se em um só, e este era o anseio de suas almas... Serem um, unidos eternamente.
Mas o tempo que tudo engole e devora, sentiu inveja de tamanho amor e por mais que dentro daquela casa o tempo não existisse, ele ainda era o senhor do lado de fora.
E assim invejoso e rancoroso o tempo tanto fez que venceu as barreiras e invadiu a casa, e ali estava ele agora, sozinho vendo seu amor em cada canto daquela casa, dentro de cada peça de roupa. E ele é só pensamentos e recordações... Pensa se todo o tempo em que esteve nos braços e entre as pernas do seu doce e pequeno amor foi o suficiente para satisfazer sua alma, pensa se amou e se deixou ser amado o bastante para toda uma vida.
Se pergunta se podia ter se entregue mais, se podia ter amado mais e sempre se perguntará se esta história vivida da forma que foi... Foi suficiente?


Digitado em 25/09/2010 – 00h52m
Leia ouvindo – Broken (Trifonic - Emergence)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

NOT HAPPING? INFELIZ!

NOT HAPPING? INFELIZ!

Boa noite! Foi à frase que de forma sorridente ele dedicou a ela ao chegar, acima de tudo ele sabia o quanto ela estava magoada por suas ações, e que, possivelmente, ele era a última pessoa que ela queria ver. Mas o destino de forma incoerente continua a uni-los. Pois, mesmo separados, estavam juntos e tentavam ter uma convivência pacífica, pois a pequena que entrou correndo pela casa quando a porta foi aperta, não merecia ser responsabilizada pelas escolhas feitas por seus pais.
Então era assim, apesar das mágoas que ela sentia dele e a paixão que ainda habitava nele, eram obrigados a se verem sempre que a pequena Olívia ia passear com o pai, e isso acontecia três vezes na semana. Ele havia encontrado artifícios para evitar vê-la, pois tentava se recuperar da intensa dor que a separação lhe havia trazido, ele ainda a amava, mas ela estava decidida e merecia ter sua posição respeitada, mas naquele dia uma felicidade diferente habitava seu coração.
Terminei! Foi o que ele disse ao virar as costas para ir embora – Terminou o que? Responde ela de forma distante. Com um singular brilho nos olhos ele revela: O romance... Aquele que estava parado sob a mesa desde que nos separamos, finalmente consegui terminá-lo... E será publicado em breve, queria te mostrar antes, já que eu sempre lia para você. O que se seguiu foi o silêncio, após alguns segundos uma frase firme e segura o acerta como a um alvo. Vou ver, tá?! Você vai ver o manuscrito ou vai ver se irá ler? Perguntou ele confuso. Vou ver se quero ler, boa noite! Foram estas as palavras que ela entoou antes de virar as costas e fechar a porta.
E ele ficou ali, parado, em frente ao vazio que o distanciava da porta do apartamento que um dia foi seu mundo, ele respirou fundo e foi embora. Enquanto caminha em direção ao elevador uma única palavra habitava sua mente: VACA!
Podiam-se ouvir os passos dele indo vagarosamente embora, e ela ali parada de costas apoiadas na porta, em sua mente milhares de idéias sobre como sua vida podia ter se transformado de forma tão radical, aquele que, há poucos instantes, de forma educada havia expulsado, um dia foi seu grande amor.
Entre as imagens que habitavam sua cabeça estava o dia em que se conheceram, assim como o dia que, de forma súbita e irresponsável, ele apareceu em sua porta pela primeira vez, sem se importar com as conseqüências, se lembrou de uma ocasião em que brigaram e para fazer as pazes, depois de oito buquês enviados para sua casa, ele aparece em uma noite chuvosa no meio do caminho com mais um, se lembrou das inúmeras aventuras, passeios, viagens... As milhares de vezes que fizeram amor.
Mas também se lembrou das discussões, das mágoas, das marcas que foram profundas e que talvez nunca se recuperem, das madrugadas que, acordada, o aguardava e acima de tudo se lembrou das traições.
Ela era uma mulher independente, inteligente, madura e jamais iria admitir ser feita de idiota... Ela encheu-se de coragem e pôs um fim. Mas isso já faz um ano.
Ele ainda a amava, isso ela sabia, pelo menos era o que ele dizia, mas ela não conseguia acreditar. Se o amava ainda... Isso ela não sabia mais responder!
Ela pára e faz um retrospecto de sua vida, principalmente de sua vida após a separação. Olha-se no espelho contemplando-se, insegura de si observa que mudou o visual, passou a se arrumar melhor, saiu inúmeras vezes com suas amigas que agora são muitas, conheceu o amor de outros homens, era mais do que nunca dona e senhora de si...
A luz fraca do quarto ilumina a pequena Olivia, que descansa em paz, olhando para sua menina naquela casa vazia, cheia de recordações boas e ruins indagou-se: hoje, depois de tudo que passou ela era mais feliz?

22/09/2010 – 01h24m
Leia ouvindo – Lembra (Cibelle –The Shine Of Dried Electric Leaves)



domingo, 14 de novembro de 2010

CHEIO DE SOM E FÚRIA!


A vida é só uma sombra que passa, um pobre ator vaidoso e exibido quando está no palco e que depois não é mais ouvido. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, que não significa nada ! (MACBETH)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ENSAIOS DE VIDA E MORTE


Ele caminhava solitário por ruas que seus pés já haviam percorrido por muitos anos, mas naquele momento caminhava de uma forma diferente, ele estava pesado, sua alma encontrava-se imersa na mais profunda escuridão. Sentia-se triste, melancólico.
Deu a si mesmo o direito de deixar livre seus pensamentos que vagavam, assim como seus pés e sua alma. Já passava das dezoito horas e o sol estava começando a se esconder e, junto com a escuridão, aumentava seu pesar. Seus cabelos encontravam-se mais desgrenhados do que de costume, trajava suas habituais roupas escuras, talvez uma forma de externar seus pesares.
Durante seu percurso, lugares conhecidos repletos de pessoas desconhecidas, por mais que tivesse claramente em sua memória cada detalhe do trajeto com suas cores, formas, distâncias e particularidades. De uma maneira peculiar, se sentia perdido.
Em meio a sua aparentemente sutil, porém profunda catarbasse, sentia-se sozinho, mas se dava ao luxo de sentir cada sensação daquele momento, cada centímetro de chão que seus pés calçados por suas surradas sandálias percorriam, cada aroma das poucas flores que se apresentaram para este tímido inicio de primavera, a fumaça despejada de forma tão feroz pelos carros, que zuniam ao passar ao seu lado, o cheiro das paredes recém pintadas, o da única confeitaria pela qual passou e das inúmeras lixeiras reviradas pelos animais “domésticos”. O vento fraco e os últimos raios de sol davam a este quadro um certo conforto em meio a tanta dor disfarçada de conformismo.
Foi estranho o instante que parou em frente a uma igreja, ele não havia percebido que o caminho que, de forma tão descompromissada, havia percorrido tinha o levado exatamente para aquele ponto. Por alguns instantes pensou se era prudente entrar ou não na mesma igreja que num passado distante, e por muitas vezes totalmente esquecido, tinha feito parte de sua vida tão expressivamente.
Já a algum tempo passava por sua cabeça que talvez fosse interessante rezar! Numa última tentativa de se encontrar, não que odiasse Deus, mas não conseguia comungar de tamanha hipocrisia e alienação, apenas pensou que estar novamente entre aquelas paredes poderia lhe trazer um pouco a paz que ele tanto necessitava, e haviam dois detalhes que se fizeram muito importante naquele momento: não havia mais nada a fazer naquele dia, nem livro a ser lido, nem trabalho a ser concluído, musica, filme ou outra coisa qualquer que se fizesse necessário para aquele instante e se os seus pés o levaram para aquele exato ponto, instantes antes do início da missa, seria bem possível que isso quisesse dizer algo. Pelo menos isto sempre foi algo em que acreditou, que as coisas apenas são quando devem ser e que a vida encontra maneiras intrigantes de nos levar para onde devemos ir, assim como rio que segue seu curso mesmo sem fazer idéia que sua existência o guia naturalmente.
Deu o primeiro passo para dentro dos portões da igreja e caminhou lentamente para dentro, subiu os degraus e atravessou o grande arco, diferentemente de todas as outras vezes que esteve neste lugar, não fez o habitual sinal da cruz ao entrar, nem mesmo ao encarar a estátua onde lá estava a cruz e o cristo nela pregado com seu semblante sofrido, caminhou para a direita e sentou-se no último dos bancos.
Ali novamente em frente à cruz, passou a olhar minuciosamente cada detalhe e percebeu que a imagem interiorizada era diferente da que contemplava agora e mentalmente indagou se o local passou por uma reforma ou se sua lembrança havia sido devorada como livros que se deterioram em velhas e empoeiradas estantes devido ao tempo. Olhou o altar enfeitado e os quadros laterais que relembravam as últimas ações do Cristo, podia sentir o cheiro do verniz dos bancos. Seus ouvidos estavam se inundando pelas orações que eram ovacionados por um grupo de velhas mulheres que rezavam no preâmbulo da missa, filhas de Maria eram assim que se chamavam, elas em um semi uníssono declamavam o terço. Haviam poucas pessoas sentadas de forma espalhada pelos inúmeros bancos do bucólico salão com seus detalhes góticos do século passado.
Mesmo sentado no último lugar e estando todas as pessoas sentadas a sua frente, com seus rostos voltados para o cristo inanimado na cruz, podia reconhecer boa parte delas. Esta era uma forma estranha de se reconhecer alguém: pela nuca. Até este tipo de pensamento lhe passou pela mente nos poucos minutos dentro daquela igreja. Muitos ali eram conhecidos, e este era o melhor termo a ser usado:  conhecidos. Muitos conheciam aquele que estava ali sentado no último banco, assim como conheciam suas ações, mas com certeza se limitavam a isso, não conheciam a pessoa por trás do rosto e das ações, suas idéias, seus anseios, suas mentiras, suas verdades e seu sofrimento eram incógnitas, muito possivelmente nem seu nome sabiam.  Então é bem possível que não o reconhecessem, pois o cabelo está diferente assim como seu olhar e suas faces outrora belas agora castigadas pelo tempo. E essa idéia que a princípio deveria tranqüilizá-lo, já que pretendia passar por aquele lugar despercebido, o transtornava, pois era uma forma de deixar claro que ele nada mais era e que nem sua identidade havia restado. O que faz parecer que nossa vida valeu algo é a esperança de sermos lembrados por alguém, no fundo necessitamos que testemunhem nossa existência.
Seus pensamentos que transcorriam a uma velocidade descomunal o impediram de perceber algo inacreditável e ao mesmo tempo fascinante que acontecia em seu corpo. E como se o arrancassem de um intenso pesadelo toma consciência de sua condição. De repente um imenso ardor no corpo o domina, mesmo em uma noite agradável com sua brisa fresca, suave como se estivesse enclausurado em uma masmorra imerso no mais profundo inferno. Sua camisa encontrava-se encharcada e sua respiração, já quase inexistente, sufocava-o. Em poucos instantes aquele local, tido como sagrado, tornou-se infernal, olhando para o cristo morto, sente como se algo o expulsasse, em sua mente milhares de vozes ecoavam gritando seus pecados , suas mentiras e suas verdades que pareciam sair de sua mente e voltarem rápidas e intensas ao seu coração que o dilacerava como mil lâminas rasantes entre a luz e as trevas.
Uma única coisa era certa: ele não deveria estar ali, não devia se quer ter cogitado entrar. Ele não era mais daquele universo, não pertencia mais aquele mundo, era um bastardo do seio da grande mãe, ele era como um rejeitado, assim como um filho fruto de um estupro, que se repudia por causa de sua maldita descendência. A cada instante torna-se mais insuportável a dor que associada à falta de ar em seus pulmões eram embaladas pelas vozes que ressoavam como trovões em sua cabeça.
Precisava sair dali, mas suas forças eram limitadas. Ele apóia sua mão direita sobre o encosto do banco a sua frente e tenta levantar, mas cai como se algo ou algum tipo de força o puxasse para baixo, como se quisesse fazê-lo prostrar-se, o que só não aconteceu por ter apoiado sua mão esquerda no chão.
Num solavanco, levanta-se como se arrancado da terra. Assim como um tubérculo que se prepara para o rito de alimentar os fortes, ou mesmo alimentar os porcos. Vira-se e sai de uma só vez, sem olhar para trás.
Poucos passos para fora da igreja, já sem força alguma, cai com seu rosto no chão e nem mesmo sua corajosa mão esquerda, que a pouco havia salvado-o, pôde evitar seu infortúnio. Uma única coisa era certa: nunca mais iria entrar nesta igreja... nem nesta e nem em nenhuma outra!

Leia ouvindo – Stairway to Heaven (Led Zeppelin) versão Apocalyptica

http://www.youtube.com/watch?v=uGO8lueg7vE