Desde outubro venho desdobrando-me para realizar as provas e ainda tentando manter a calma, para não pirar, mas agora tiro um imenso peso das costas sabendo que posso dormir...
Sem descansar pois a jornada apenas se inicia...
EVOÉ BACO!
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
NOITE FRIA - pt. 01
Apertar o play. Esta é a primeira ação que tem ao pisar na rua, em seu tocador de música ela escolhe uma música que pudesse traduzir sua alma e descrever seus sentimentos naquele momento. Coloca em seus ouvidos os fones e começa a andar. Seu corpo se arrasta em passos lentos que são embalados por uma melancólica e triste música.
Está frio e o dia está quase por acabar, ela anda olhando para o chão e deixa seu olhar se fixar em seus velhos sapatos pretos. O vento sobra muito forte obrigando-a a dar mais uma volta em seu cachecol, em poucos minutos, lá está ela parada na plataforma ferroviária, pois seu destino é um lugar extremamente distante de sua simples casa de subúrbio.
A estação encontra-se praticamente vazia, excluindo-se existem apenas mais duas outras almas por ali, duas mulheres que inutilmente passam suas vassouras sobre o empoeirado chão, que insiste em sujar-se novamente devido o vento de outono que derruba e espalha as folhas de uma velha árvore que desde sua infância tenta dar um pouco de vida aquele monstro de concreto.
“A vida parecia fácil...” era o que inocentemente ela pensou um dia, mas agora pergunta-se “O que significa a palavra fácil?” e só consegue pensar em quando dizem que hoje em dia as coisas são mais fáceis, o ser humano conseguiu inventar uma infinidade de coisas, que para ela era simplesmente um monte de lixo, pois mesmo dotado da tanta sabedoria não conseguiram inventar algo que o tornasse melhor, não inventaram algo que transmutasse sua dor em paz ou seu sofrimento em tranqüilidade.
Já não era mais hoje, o hoje já havia se tornado o ontem para que o amanhã fosse o agora. E ela estava ali, parada, prostrada no início da plataforma, este era mais um de seus inúmeros rituais: descer as escadas e se distanciar o máximo das pessoas. E ali, parada nesta noite fria, ela parecia estar em outro mundo, embalada por sua música dispersa de qualquer outra coisa senão os galhos da velha árvore que se inclina para a direita com o vento.
O trem parou exatamente em sua frente e assim que as portas se abriram a única coisa que ela precisava era dar o primeiro passo e entrar no vagão para iniciar sua jornada, uma jornada que marcaria mais uma vez sua vida, marcaria esta sua nova vida e ela desejava não repeti-la, não nesta vida.
Dentro do vagão apenas mais três pessoas viajavam e estas pessoas traziam estampados em seus semblantes a clara transfiguração do fracasso. Estavam ali quatro indivíduos sentados distantes um dos outros, cada um com suas histórias e seus fantasmas.
A música continua insistentemente a tocar e ela já não sabe mais o que está sentindo, seus sentimentos já haviam se tornado um emaranhado de idéias velhas e vagas. Aos poucos o vagão vai esvaziando e ela fica totalmente sozinha, porém não mais metaforicamente.
A luz fria do vagão torna tudo apático e sem vida, nem mesmo o rubro banco trás a cena vida ou brilho. Inóspita, solitária de corpo e alma, seus pensamentos começam a afetar seus sentidos tornando-os tão confusos quanto sua mente.
Mas é a visão a primeira a trair-lhe. Com a cabeça encostada no banco olhando para o alto vê as luzes dançarem e tornarem-se como salamandras extasiadas. Seus sentidos parecem um amontoado de merda, e merda seria o perfeito reflexo para descrever sua existência.
As luzes, assim como todas as superfícies brilhantes daquele lugar, passam a desfocar-se a cada momento que ela tentava identificar o que via, possivelmente deveria estar muito cansada, cansada demais até mesmo para reclamar.
Ela é um vaso vazio e sua alma há muito tempo já havia abandonado seu corpo, para que toda esta merda pudesse penetrá-la.
Quem era ela, quem era esta personagem sentada em um banco solitária no primeiro vagão deste trem da madrugada, quem são as mães por trás dos milhares de cartazes de desaparecidos, quem são aqueles que morrem vítimas da violência sem terem o direito de conhecerem seus algozes, muito menos os motivos que o levaram, quem são aqueles que morrem nas filas antes mesmo de seus corpos, pois a esperança os abandonam à sorte, quem são aqueles que morrem no cárcere, quem é este que rabisca estas palavras sentado sozinho debaixo de uma luminária tendo como seu consolo apenas um cigarro já pela metade e uma garrafa de conhaque? Quem é você que está neste instante esta escutando esta história? Se somos nós incapazes que de reconhecer-nos, quem dirá esta nossa personagem que não mais se reconhece nem ao espelho muito menos consegue ter consciência de quais caminhos sua vida a fez trilhar.
Ela respira fundo, mais um ritual, é sempre assim respira fundo ao ver de longe o início da última estação, seu ponto final, neste instante uma lágrima escorre por seu rosto, lágrima esta que ela mesmo já não consegue mais explicar tornou-se tão comum que não dói mais, antes mesmo que possa secá-la o trem para.
E o fim e mais uma noite começa para as crianças perdidas.
Inicio 13/10/2010 – 02h15m
Termino 18/10/2010 – 21h38m
Digitado em 23/10/2010 – 03h11m
Leia ouvindo – Run (Snow Patrol)
http://www.youtube.com/watch?v=jS8IZcx7tJY
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
INSUFICIÊNCIA
ENSAIOS de Vida e Morte!
23 DE SETEMBRO DE 2010.
INSUFICIÊNCIA
A água do cai vagarosamente sob sua cabeça, escorrendo por seus cabelos suados e eternamente desgrenhados, coberto pelos vestígios de sua última tarde ao lado de seu grande amor. Ao acariciá-los ele traz a tona aquele desejo voraz que há poucos instantes transbordava de seu corpo.
Ali naquela casa, eles haviam construído um mundo paralelo, um mundo onde nada mais importava, só havia lugar para seus corpos suados e a intensa paixão que os levavam a ficarem dias trancados se entregando ao mais intenso, profundo, molhado e extremo amor.
Com extrema sutileza, ele desliza suas mãos por seu corpo na busca de encontrar um vestígio qualquer de seu grande amor, um fio de cabelo talvez. Em meio a sua busca ele encontra novamente o prazer, não um prazer simples e mundano levado pelo simples fato de estar se tocando, este prazer que o invadia era resultado de uma complexa combinação: onde o resto do aroma da tão prazerosa relação misturava-se com seu próprio cheiro. Levava sua mente aos mais delirantes devaneios embalados pelas recordações. Enquanto a água corria por seu corpo ele pensava e não conseguia se lembrar de uma outra época que tivesse conhecido tanto prazer ou de um outro corpo tão fascinante ou pele tão macia e perfumada, só conseguia pensar na sua última tarde, via os corpos que se espremiam e escorregavam um no outro em um constante frenesi. Recordou-se com riqueza de detalhe o momento inicial da triunfal penetração, pode sentir na pele cada milímetro, daquele pequeno, rosado, suculento e delicado orifício, que remetiam a um pequeno vão entre as nuvens no céu e que pouco a pouco ia se dilatando para receber o faminto falo.
As costas cobertas pelo suor ressaltavam ainda mais aquela fabulosa tatuagem que ele mesmo um dia havia desenhado. Cada curva do desenho criado com maestria e carinho, imerso em um profundo anseio de um dia poder vê-la assim, liberta e entregue por completo a suas carícias, assim de bruços com suas delicadas nádegas empinadas, como dois fartos e delicados montes, maravilhosamente cobertos por seus delicados e finos pelos loiros transformavam aquela visão na mais fascinante e excitante imagem que poderia ser captada pelos olhos de um simples mortal, digna de ser eternizada. De uma coisa ele tinha certeza: aquela era a imagem que ele iria guardar deste louco amor, exatamente assim como via, aquela casa com os lençóis bagunçados sob a cama e aquele fabuloso corpo que repousava nesta espécie de ninho de amor entregue e clamando para ser mais uma vez possuído.
Ele acariciou seus cabelos e deslizou as mãos vagarosamente pelos ombros descendo pelas costas, um visível frison é eminente, ele repousa as mãos em seu sexo, mas não antes de acariciar incessantemente sua bunda deixando seu corpo ainda mais encharcado de suor.
Aquilo era amor em sua essência mais intensa e visceral, para eles nada era proibido, sujo ou imoral, eram dois corpos entregues aos seus anseios e desejos mais primitivos, eram homem e mulher na mais perfeita definição da palavra, satisfaziam-se, gozavam e amavam, abraçados comprimiam seus corpos cada vez mais como se quisessem transformar-se em um só, e este era o anseio de suas almas... Serem um, unidos eternamente.
Mas o tempo que tudo engole e devora, sentiu inveja de tamanho amor e por mais que dentro daquela casa o tempo não existisse, ele ainda era o senhor do lado de fora.
E assim invejoso e rancoroso o tempo tanto fez que venceu as barreiras e invadiu a casa, e ali estava ele agora, sozinho vendo seu amor em cada canto daquela casa, dentro de cada peça de roupa. E ele é só pensamentos e recordações... Pensa se todo o tempo em que esteve nos braços e entre as pernas do seu doce e pequeno amor foi o suficiente para satisfazer sua alma, pensa se amou e se deixou ser amado o bastante para toda uma vida.
Se pergunta se podia ter se entregue mais, se podia ter amado mais e sempre se perguntará se esta história vivida da forma que foi... Foi suficiente?
Digitado em 25/09/2010 – 00h52m
Leia ouvindo – Broken (Trifonic - Emergence)
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