quarta-feira, 17 de novembro de 2010

NOT HAPPING? INFELIZ!

NOT HAPPING? INFELIZ!

Boa noite! Foi à frase que de forma sorridente ele dedicou a ela ao chegar, acima de tudo ele sabia o quanto ela estava magoada por suas ações, e que, possivelmente, ele era a última pessoa que ela queria ver. Mas o destino de forma incoerente continua a uni-los. Pois, mesmo separados, estavam juntos e tentavam ter uma convivência pacífica, pois a pequena que entrou correndo pela casa quando a porta foi aperta, não merecia ser responsabilizada pelas escolhas feitas por seus pais.
Então era assim, apesar das mágoas que ela sentia dele e a paixão que ainda habitava nele, eram obrigados a se verem sempre que a pequena Olívia ia passear com o pai, e isso acontecia três vezes na semana. Ele havia encontrado artifícios para evitar vê-la, pois tentava se recuperar da intensa dor que a separação lhe havia trazido, ele ainda a amava, mas ela estava decidida e merecia ter sua posição respeitada, mas naquele dia uma felicidade diferente habitava seu coração.
Terminei! Foi o que ele disse ao virar as costas para ir embora – Terminou o que? Responde ela de forma distante. Com um singular brilho nos olhos ele revela: O romance... Aquele que estava parado sob a mesa desde que nos separamos, finalmente consegui terminá-lo... E será publicado em breve, queria te mostrar antes, já que eu sempre lia para você. O que se seguiu foi o silêncio, após alguns segundos uma frase firme e segura o acerta como a um alvo. Vou ver, tá?! Você vai ver o manuscrito ou vai ver se irá ler? Perguntou ele confuso. Vou ver se quero ler, boa noite! Foram estas as palavras que ela entoou antes de virar as costas e fechar a porta.
E ele ficou ali, parado, em frente ao vazio que o distanciava da porta do apartamento que um dia foi seu mundo, ele respirou fundo e foi embora. Enquanto caminha em direção ao elevador uma única palavra habitava sua mente: VACA!
Podiam-se ouvir os passos dele indo vagarosamente embora, e ela ali parada de costas apoiadas na porta, em sua mente milhares de idéias sobre como sua vida podia ter se transformado de forma tão radical, aquele que, há poucos instantes, de forma educada havia expulsado, um dia foi seu grande amor.
Entre as imagens que habitavam sua cabeça estava o dia em que se conheceram, assim como o dia que, de forma súbita e irresponsável, ele apareceu em sua porta pela primeira vez, sem se importar com as conseqüências, se lembrou de uma ocasião em que brigaram e para fazer as pazes, depois de oito buquês enviados para sua casa, ele aparece em uma noite chuvosa no meio do caminho com mais um, se lembrou das inúmeras aventuras, passeios, viagens... As milhares de vezes que fizeram amor.
Mas também se lembrou das discussões, das mágoas, das marcas que foram profundas e que talvez nunca se recuperem, das madrugadas que, acordada, o aguardava e acima de tudo se lembrou das traições.
Ela era uma mulher independente, inteligente, madura e jamais iria admitir ser feita de idiota... Ela encheu-se de coragem e pôs um fim. Mas isso já faz um ano.
Ele ainda a amava, isso ela sabia, pelo menos era o que ele dizia, mas ela não conseguia acreditar. Se o amava ainda... Isso ela não sabia mais responder!
Ela pára e faz um retrospecto de sua vida, principalmente de sua vida após a separação. Olha-se no espelho contemplando-se, insegura de si observa que mudou o visual, passou a se arrumar melhor, saiu inúmeras vezes com suas amigas que agora são muitas, conheceu o amor de outros homens, era mais do que nunca dona e senhora de si...
A luz fraca do quarto ilumina a pequena Olivia, que descansa em paz, olhando para sua menina naquela casa vazia, cheia de recordações boas e ruins indagou-se: hoje, depois de tudo que passou ela era mais feliz?

22/09/2010 – 01h24m
Leia ouvindo – Lembra (Cibelle –The Shine Of Dried Electric Leaves)



domingo, 14 de novembro de 2010

CHEIO DE SOM E FÚRIA!


A vida é só uma sombra que passa, um pobre ator vaidoso e exibido quando está no palco e que depois não é mais ouvido. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, que não significa nada ! (MACBETH)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ENSAIOS DE VIDA E MORTE


Ele caminhava solitário por ruas que seus pés já haviam percorrido por muitos anos, mas naquele momento caminhava de uma forma diferente, ele estava pesado, sua alma encontrava-se imersa na mais profunda escuridão. Sentia-se triste, melancólico.
Deu a si mesmo o direito de deixar livre seus pensamentos que vagavam, assim como seus pés e sua alma. Já passava das dezoito horas e o sol estava começando a se esconder e, junto com a escuridão, aumentava seu pesar. Seus cabelos encontravam-se mais desgrenhados do que de costume, trajava suas habituais roupas escuras, talvez uma forma de externar seus pesares.
Durante seu percurso, lugares conhecidos repletos de pessoas desconhecidas, por mais que tivesse claramente em sua memória cada detalhe do trajeto com suas cores, formas, distâncias e particularidades. De uma maneira peculiar, se sentia perdido.
Em meio a sua aparentemente sutil, porém profunda catarbasse, sentia-se sozinho, mas se dava ao luxo de sentir cada sensação daquele momento, cada centímetro de chão que seus pés calçados por suas surradas sandálias percorriam, cada aroma das poucas flores que se apresentaram para este tímido inicio de primavera, a fumaça despejada de forma tão feroz pelos carros, que zuniam ao passar ao seu lado, o cheiro das paredes recém pintadas, o da única confeitaria pela qual passou e das inúmeras lixeiras reviradas pelos animais “domésticos”. O vento fraco e os últimos raios de sol davam a este quadro um certo conforto em meio a tanta dor disfarçada de conformismo.
Foi estranho o instante que parou em frente a uma igreja, ele não havia percebido que o caminho que, de forma tão descompromissada, havia percorrido tinha o levado exatamente para aquele ponto. Por alguns instantes pensou se era prudente entrar ou não na mesma igreja que num passado distante, e por muitas vezes totalmente esquecido, tinha feito parte de sua vida tão expressivamente.
Já a algum tempo passava por sua cabeça que talvez fosse interessante rezar! Numa última tentativa de se encontrar, não que odiasse Deus, mas não conseguia comungar de tamanha hipocrisia e alienação, apenas pensou que estar novamente entre aquelas paredes poderia lhe trazer um pouco a paz que ele tanto necessitava, e haviam dois detalhes que se fizeram muito importante naquele momento: não havia mais nada a fazer naquele dia, nem livro a ser lido, nem trabalho a ser concluído, musica, filme ou outra coisa qualquer que se fizesse necessário para aquele instante e se os seus pés o levaram para aquele exato ponto, instantes antes do início da missa, seria bem possível que isso quisesse dizer algo. Pelo menos isto sempre foi algo em que acreditou, que as coisas apenas são quando devem ser e que a vida encontra maneiras intrigantes de nos levar para onde devemos ir, assim como rio que segue seu curso mesmo sem fazer idéia que sua existência o guia naturalmente.
Deu o primeiro passo para dentro dos portões da igreja e caminhou lentamente para dentro, subiu os degraus e atravessou o grande arco, diferentemente de todas as outras vezes que esteve neste lugar, não fez o habitual sinal da cruz ao entrar, nem mesmo ao encarar a estátua onde lá estava a cruz e o cristo nela pregado com seu semblante sofrido, caminhou para a direita e sentou-se no último dos bancos.
Ali novamente em frente à cruz, passou a olhar minuciosamente cada detalhe e percebeu que a imagem interiorizada era diferente da que contemplava agora e mentalmente indagou se o local passou por uma reforma ou se sua lembrança havia sido devorada como livros que se deterioram em velhas e empoeiradas estantes devido ao tempo. Olhou o altar enfeitado e os quadros laterais que relembravam as últimas ações do Cristo, podia sentir o cheiro do verniz dos bancos. Seus ouvidos estavam se inundando pelas orações que eram ovacionados por um grupo de velhas mulheres que rezavam no preâmbulo da missa, filhas de Maria eram assim que se chamavam, elas em um semi uníssono declamavam o terço. Haviam poucas pessoas sentadas de forma espalhada pelos inúmeros bancos do bucólico salão com seus detalhes góticos do século passado.
Mesmo sentado no último lugar e estando todas as pessoas sentadas a sua frente, com seus rostos voltados para o cristo inanimado na cruz, podia reconhecer boa parte delas. Esta era uma forma estranha de se reconhecer alguém: pela nuca. Até este tipo de pensamento lhe passou pela mente nos poucos minutos dentro daquela igreja. Muitos ali eram conhecidos, e este era o melhor termo a ser usado:  conhecidos. Muitos conheciam aquele que estava ali sentado no último banco, assim como conheciam suas ações, mas com certeza se limitavam a isso, não conheciam a pessoa por trás do rosto e das ações, suas idéias, seus anseios, suas mentiras, suas verdades e seu sofrimento eram incógnitas, muito possivelmente nem seu nome sabiam.  Então é bem possível que não o reconhecessem, pois o cabelo está diferente assim como seu olhar e suas faces outrora belas agora castigadas pelo tempo. E essa idéia que a princípio deveria tranqüilizá-lo, já que pretendia passar por aquele lugar despercebido, o transtornava, pois era uma forma de deixar claro que ele nada mais era e que nem sua identidade havia restado. O que faz parecer que nossa vida valeu algo é a esperança de sermos lembrados por alguém, no fundo necessitamos que testemunhem nossa existência.
Seus pensamentos que transcorriam a uma velocidade descomunal o impediram de perceber algo inacreditável e ao mesmo tempo fascinante que acontecia em seu corpo. E como se o arrancassem de um intenso pesadelo toma consciência de sua condição. De repente um imenso ardor no corpo o domina, mesmo em uma noite agradável com sua brisa fresca, suave como se estivesse enclausurado em uma masmorra imerso no mais profundo inferno. Sua camisa encontrava-se encharcada e sua respiração, já quase inexistente, sufocava-o. Em poucos instantes aquele local, tido como sagrado, tornou-se infernal, olhando para o cristo morto, sente como se algo o expulsasse, em sua mente milhares de vozes ecoavam gritando seus pecados , suas mentiras e suas verdades que pareciam sair de sua mente e voltarem rápidas e intensas ao seu coração que o dilacerava como mil lâminas rasantes entre a luz e as trevas.
Uma única coisa era certa: ele não deveria estar ali, não devia se quer ter cogitado entrar. Ele não era mais daquele universo, não pertencia mais aquele mundo, era um bastardo do seio da grande mãe, ele era como um rejeitado, assim como um filho fruto de um estupro, que se repudia por causa de sua maldita descendência. A cada instante torna-se mais insuportável a dor que associada à falta de ar em seus pulmões eram embaladas pelas vozes que ressoavam como trovões em sua cabeça.
Precisava sair dali, mas suas forças eram limitadas. Ele apóia sua mão direita sobre o encosto do banco a sua frente e tenta levantar, mas cai como se algo ou algum tipo de força o puxasse para baixo, como se quisesse fazê-lo prostrar-se, o que só não aconteceu por ter apoiado sua mão esquerda no chão.
Num solavanco, levanta-se como se arrancado da terra. Assim como um tubérculo que se prepara para o rito de alimentar os fortes, ou mesmo alimentar os porcos. Vira-se e sai de uma só vez, sem olhar para trás.
Poucos passos para fora da igreja, já sem força alguma, cai com seu rosto no chão e nem mesmo sua corajosa mão esquerda, que a pouco havia salvado-o, pôde evitar seu infortúnio. Uma única coisa era certa: nunca mais iria entrar nesta igreja... nem nesta e nem em nenhuma outra!

Leia ouvindo – Stairway to Heaven (Led Zeppelin) versão Apocalyptica

http://www.youtube.com/watch?v=uGO8lueg7vE